Apesar das mulheres no Uganda fornecerem 70-80% do trabalho agrícola e mais de 90% da produção e processamento das colheitas alimentares, apenas 7% das terras no país são propriedade das mulheres.
Acresce que, hoje, as jovens ugandesas estão ainda em sérios riscos de contrair o HIV devido aos inúmeros casos de rapto e violação por parte dos rebeldes ugandeses. Aqui, como em outros países de África e em regiões menos desenvolvidas de todo o mundo, põe-se ainda com maior acuidade o problema do direito ao aborto. - Jorge G
Agnes Natinku tem 18 anos, mas ninguém lhe dará mais de 14. Quando na sua pequena e pobre aldeia de Namayumba, a poucos quilómetros da capital, Kampala, se soube que estava grávida, Agnes teve de abandonar a escola. Nada queria contar aos pais, mas estes vieram a saber de tudo. A garota fizera um aborto ilegal no seu país, acto passível de 14 anos prisão.
Mas o caso de Agnes não é raro no Uganda. Aproximadamente 300 mil ugandesas abortam anualmente, segundo os mais recentes dados do Instituto Guttmacher, uma organização sem fins lucrativos. Neste país do coração de África, uma em cada cinco mulheres recorre à interrupção voluntária da gravidez.
Há poucas alternativas. O país carece de contraceptivos e o aborto torna-se o método de rotina por falta de planeamento familiar. Submetem-se a abortos ilegais e perigosos. Uma em cada duas vezes são assistidas em consequência de complicações.
Aliás, o aborto representa a principal causa de mortalidade entre as grávidas no Uganda, onde 21% dos óbitos maternais lhe são imputáveis.
Agnes é, simultaneamente, uma adolescente agitada e uma adulta que aprendeu as duras lições da vida.
“Quando estava grávida, expulsaram-me da escola”, conta com voz calma e sem emoção. Nessa altura , com 16 anos, era demasiado jovem e pobre para criar um filho
Segundo o mesmo Instituto Guttmacher , que poderei livremente traduzir por Benfeitor, só 23% das ugandesas usam contraceptivos e 14% contraceptivos modernos. A escassez da oferta em relação à procura é a principal responsável por estes números. 33% das mulheres desejam praticar a contracepção, mas a ela não têm acesso. Por isso, 44% das gravidezes não são desejadas.
Nas cidades, as pílulas abortivas são vendidas em farmácias a cerca de 5 euros , enquanto que o aborto praticado por um médico custa perto de 50 euros. Mas nas regiões rurais, mais pobres e onde vivem 85% das ugandesas as mulheres têm de gastar à volta de 8,50 euros para obter medicamentos à base de plantas ou recorrer a uma parteira ou curandeira. Muito dinheiro num país pobre!
Os abortos mal praticados diariamente matam ou deixam sequelas permanentes, após complicações frequentes como: hemorragias, infecções, lesões internas, dores crónicas, doenças inflamatórias pélvicas e esterilidade. Os casos mais graves levam mesmo à histerectomia ou à própria morte.
Hannington Burunde, responsável pela comunicação no Secretariado da População do Ministério das Finanças, do Planeamento e do Desenvolvimento Económico, afirmou: “Sempre que a questão da legalização do aborto é evocada no Parlamento, é evitada a sua discussão por grupos religiosos. E, assim, os abortos continuam a ser praticados na clandestinidade”.
Foto de uma jovem do Uganda
Excertos de um artigo de Glenna Gordon, in “The East African”.
Tradução e adaptação de Jorge G.
Publicação nº 210 - jorgg
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