Para as amigas d'O Sino da Aldeia
Uma gardénia
Decididamente, estou em balanço. Há uns dias para cá, no tempo que me sobra das notas e dos planos de recuperação e de acompanhamento, e das pautas, e dos computadores que vão abaixo porque o servidor não serve, e do envelope com as fichas de avaliação que alguém fez desaparecer e que ficou por aparecer, e dos carimbos, das fotocópias de fotocópias, dos apoios que se propõem e que não apoiam porque não há mais horas, não há verba, nem professores, nem salas, nem cadeiras, há apenas um Ministério que manda mas não manda mais dinheiro… e os mestres no faz-de-conta, os pais no faz-de-conta, os garotos no faz-de-conta, neste país do faz-de-conta, amador por vocação e por necessidade…e eu a reflectir, em balanço, procurando os porquês e não encontrando os porques…porque são manhosos, escondem-se de todos dizendo-se abertos e transparentes.
Estou em balanço, estadio natural do país onde vivo. Portugal está sempre a balançar, é um permanente peso e contra-peso, vem e vai com a maré, acende-se e apaga-se como as luzinhas de uma árvore de Natal, se sopra o vento espirra e na calmaria deita-se ao sol.
E eu, português, me confesso: também estou em balanço.
O sino da minha aldeia toca para anunciar a chegada, guia-se pela estrela para não perder o norte, e pergunta a quem vem porque tardam os magos na viagem.
E junto dele, vêm as mulheres saber de novas e conversar, entram no adro e aquecem, que os homens não querem entrar. São elas que lhe dão força, querem o sino a tocar, abrem caminho e gritam, pretendem-no a badalar.
Pois, pelas mulheres do Sino, hei-de eu fazê-lo cantar !
Publicação nº 219 - jorgg