Há muito tempo que venho dizendo que não é o excesso de velocidade que mais mata nas estradas portuguesas.
Muitos discordam, mas os números deste período natalício e as causas da maioria dos grandes acidentes ocorridos, talvez levem a repensar muitos dos que entendem que circular nas auto-estradas a 140/150 Km/hora é o grande responsável pelos desastres.
A 120 Km/hora se podia circular em auto-estrada quando tirei a carta de condução há 34 anos atrás. 90/100 Km/hora nas restantes estradas.
De 1972 até hoje, pensemos na modernização evidente do nosso parque automóvel, na segurança adicionada às características dos veículos, à clara melhoria do traçado e do piso da grande maioria das estradas. Os limites de velocidade são os mesmos. Tenho para mim que , para um condutor experiente e bem preparado, num automóvel em bom estado de conservação, circular na A1 , na A2, na A8, a 120Km/h pode dar lugar a um adormecimento da velocidade de reacção perante um inesperado acontecimento que implique uma solicitação imediata da capacidade de reflexos ao volante. Por outro lado, conduzir nessas estradas e condições a uma velocidade cerca de 20 a 25% mais elevada, promove a chamada constante da adrenalina necessária ao reflexo pronto e atempado.
Mas o mais importante , na minha opinião, é o investimento absolutamente premente que deveria ser feito na instrução dos candidatos a condutores, na reciclagem dos encartados e na prevenção rodoviária.
A instrução continua a processar-se em moldes perfeitamente obsoletos, permitindo-se que possa conduzir nas estradas quem nunca por nenhuma passou como instruendo.
A condução nocturna, tão diferente da diurna, não faz parte do ensino nas nossas escolas de condução.
Não se faz nada em matéria de prevenção do acidente. Acabou-se com a Prevenção Rodoviária porque a verba dispendida fazia falta para pagar à polícia.
Aumentaram-se as coimas e multas para valores pesados para a bolsa dos portugueses comuns.
Reduziram-se os valores de álcool permitidos ao condutor.
Fizeram-se mais estradas com pisos bons, mesmo se comparados com estradas estrangeiras onde estou farto de conduzir.
Então, porque há cada vez mais acidentes? Por falta de civismo dos condutores? Concordo, alguns não apresentam perfil psicológico para andar por aí com perigosa arma nas mãos, mas será apenas por isso? Por falta de vigilância e policiamento das estradas? Concordo, mas não me parece suficiente.
Penso que o grande problema se situa na área da educação, do ensino da condução perfeitamente desadequado que ainda se pratica em Portugal.
Um condutor mal preparado pode despistar-se a 100 Km/hora, não havendo limite de velocidade que lhe atenue a impreparação para conduzir. Apenas dará maior receita aos cofres do Estado, que não investe essa verba num sério abordar da questão.
Em resumo:
- Defendo um ensino de qualidade nas escolas de condução, treinando-se os instruendos para conduzir em condições de piso molhado e com instrução nocturna obrigatória e em estrada.
- Defendo um limite de velocidade de 150 Km/hora em auto-estrada e de 120 em outras estradas fora das localidades.
- Defendo uma tolerância máxima de 8% aos limites máximos de velocidade, e que os condutores que excedam esses limites de tolerância sejam imediatamente impedidos de conduzir até que um juíz lhes pronuncie a sentença.
- Defendo um sistema anual de bonificação ou de agravamento dos prémios de seguro até ao limite de 50% do valor do mesmo, consoante o comportamento dos condutores e que a participação à entidade seguradora se torne obrigatória em caso de acidente ocasionado por infracção grave.
- Defendo que as verbas provenientes das multas arrecadadas sejam investidas por inteiro em acções de prevenção, na conservação e na sinalização extremamente deficientes em tantos locais, no policiamento das estradas por carros perfeitamente identificados e dissuasores de comportamento gravoso de condutores indisciplinados e irresponsáveis.
- Defendo o ensino obrigatório das regras de condução e de civismo ao volante, no Ensino Secundário.
- Defendo a reciclagem de encartados por entidades insuspeitas e controladas por organismos oficiais ligados a um Ministério dos Transportes e da Segurança Rodoviária.
- Defendo uma inspecção de veículos regular a cargo de organismos oficiais ou devidamente controlados por entidades oficiais fiscalizadoras.
- Defendo uma política de verdade tendente à real diminuição dos sinistros, abandonando a política actual do faz-de-conta em que o importante tem sido o aumento de receitas provenientes das multas, sem que ninguém saiba para onde é canalizada essa verba significativa. - E, por fim, que a polícia seja dotada dos meios necessários para a cabal execução das suas atribuições.
É evidente que estas medidas aqui preconizadas custam dinheiro. Mas os condutores portugueses há muitos anos que bem pagam para isso!
Publicação nº 234 - jorgg